O que é texto?

    



     Parece uma pergunta simples, no entanto não é um conceito fácil de ser fechado. Pensar na definição de texto é muito além de enxergar um conglomerado de parágrafos organizados entre si, arrisco-me a dizer, inicialmente, que o texto é a construção de uma mensagem com o intuito de atingir um propósito comunicativo. Proponho analisar aqui cinco visões diferentes sobre o que é um texto e não poderia começar sem citar o linguista britânico Halliday (1976). Para ele, o texto é uma unidade significativa e é preciso ter textualidade, essa seria a distinção entre um texto e algumas frases não relacionadas. Para o autor, o texto não é um conjunto gramatical com frases e orações e não precisa ter um tamanho específico para ser texto, basta ter uma unidade de sentido significativa. Diante de tal definição, tenho que corroborar com as ideias do autor, pois, como disse no início, o texto precisa transmitir uma mensagem e atingir o propósito comunicativo para o qual foi elaborado.  

     Segundo a linguista e professora brasileira Orlandi (1995) o texto é uma peça da linguagem que representa uma unidade significativa. Ela vai ao encontro das ideias de Halliday sobre o que é um texto e ressalta que " o texto é o que significa". Portanto, vimos aqui que a definição de texto para os dois linguistas giram em torno da significação. A autora acrescenta que o texto é "um objeto histórico", não no sentido de um documento, mas do discurso. Ora, se o texto é dotado de textualidade, a interpretação parte de um discurso. 

     Partimos agora para a visão da linguista Ingedore Koch que diz que o texto é "um lugar de constituições e de interação de sujeitos sociais", retoma-se aqui a ideia de que um texto é guiado pelo discurso, sendo assim podemos dizer que um discurso é um texto e ele pode ser falado, escrito ou representado. Koch afirma que o texto é "um construto histórico e social, extremamente complexo e multifacetado", nesse caso, precisa ser interpretado. O texto é visto como interacional, em que o leitor é um sujeito ativo e tem participação na construção do sentido. 

     Segundo o Profº Dr. Antonio Carlos Xavier, o texto é igual ao "dito + o não dito" ratificando a ideia de um discurso que é construído para deixar lacunas a serem preenchidas pelo leitor. Xavier (2005) aborda a concepção de uma leitura por meio de inferências, assim o texto é o dito pelo escritor e para se constituir como texto precisa do não dito, parte que cabe ao leitor. 

     Trago, por último, uma visão mais contra-hegemônica em relação aos teóricos anteriormente citados, pois, de acordo com Eduardo Guimarães (1995), se todos sabemos o que é texto para quê procurar saber o que é texto? O autor expõe que a tentativa de conceituar o termo pode ser mera categorização. Acredito que seja necessário sim e existe a necessidade de trazermos significados às coisas. Pode parecer uma pergunta simples, porém para muitos a ideia de texto ainda está longe do ideal. Guimarães (2005) vê o texto do ponto de vista da enunciação ao indagar "o que é texto se se considera a enunciação?". Ele questiona que a ideia de texto tendo início e fim em um livro impresso recebe o mesmo nome para um texto em um computador? 

     Diante desse panorama conceitual sobre o que é um texto, surge um questionamento que o leitor pode, muitas vezes, comparar: texto digital e texto não digital são a mesma coisa? Na verdade, o texto não deixa de ser texto se mudar o suporte. Seja em livro, revista, jornal impresso ou em plataformas digitais, o texto continuará sendo texto. A propósito, cabe salientar, que em meios digitais, acrescentamos a ideia de hipertexto, que é a possibilidade de fazer uma leitura por meio de hiperlinks para ajudar na construção do sentido. 


Referências:

GUIMARÃES, Eduardo. Texto e Enunciação. Organon, 1995. Disponível em: <https://www.seer.ufrgs.br/organon/article/view/29360/18050> Acesso em 28/04\2021

HALLIDAY, M. A. K.; HASAN. Cohesion in English. Longman, Londres, 1976. Disponível em:<https://www.academia.edu/23141930/Cohesion_in_English_Halliday_and_Hasan> Acesso em 28/04\2021

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Desvendando os sentidos do texto. São Paulo: Cortez, 2018. Disponível em:<https://books.google.com.br/books?> Acesso em 28/04\2021

MARCUSCHI, Luiz Antonio. XAVIER, Antonio Carlos. Hipertexto e Gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. Lucerna: 2005.Disponívelem:http://tpleitura.pbworks.com/w/file/fetch/65870720/Xavier%20-%20Leitura%20texto%20e%20hipertexto.pdf> Acesso em 28/04\2021 

ORLANDI, Eni Puccinelli. Texto e discurso.  Ed.Unicamp: 1995. Disponível em:<https://www.seer.ufrgs.br/organon/article/view/29365/18055>Acesso em 28/04\2021

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